A felicidade tornou-se instantânea. E todos a querem como se não fosse possível prescindir dela por um bocadinho. Tem de ser mesmo 24/7/365. Não será, nem de perto nem de longe, aquela serenidade que vem depois de um bom vinho, a aquecer uma boa conversa, ou a que emerge de um reencontro inesperado.
"Nada disso. A felicidade é uma espécie de full time must have, embalada em pacotinhos que encham os bolsos como se fosse entulho e prontíssima a consumir. E consumir muito. A malta mais nova — essas criaturas enérgicas, impacientes e (às vezes) deliciosamente ingénuas — foram convencidas não sei por quem, se pelas redes sociais ou se por pressão entre pares, de que ser feliz é sinónimo de ter free wi-fi. A rede deve estar sempre ligada, sinal fortíssimo, sem falhas. Falta de sinal forte, falhas e problemas de telemóvel ou pc provocam apagões e colapsos brutais. Colapsos emocionais e colapsos, sei lá, humanos e existenciais."
"Ao contrário do que se possa pensar, ser feliz não é um estado de espírito – embora vá observando isso mesmo em toda a gente mais nova que por mim passa. É tal e qual como um direito constitucional e a sua não existência é um atentado contra tudo o que se conhece. Atenção, não estás feliz às 15h27 de terça-feira? Já mediste os teus centros de energia? Já fizeste ioga com cabras e bodes? Ainda não te despediste do teu emprego “não alinhado com a tua vibe”? Ah, não digas, não conseguiste desligar-te bem antes das 17:59 e só conseguiste fazê-lo às 18:53h. Oh, que infelicidade. Mas, bem-vindo ao mundo real."
"Portanto, talvez seja altura de dizer, com carinho e uma dose grande de ironia: meus caros, a felicidade não é um estado de login contínuo. Não é para estar sempre feliz — isso seria uma doença ou um bug no sistema nervoso. É para estar feliz às vezes e, já agora, grato sempre que isso acontecer." reforça José Crespo de Carvalho, Presidente do Iscte Executive Education